segunda-feira, 1 de abril de 2013



 Ele não era muito popular. Tinha uma testa grande, olhos escuros, era magrelo e nem sempre feliz. Não tinha um cabelo bonito, tinha o corte raspado, a melhor solução que a mãe encontrou para seu , sempre rebelde , cabelo crespo. Não era muito de sorrir. Seu gosto musical não era nada demais, ouvia o que os pais queriam , o que ,na verdade ,é bem normal para uma criança dessa idade. Ele também não tinha muitos amigos mas ,preferia imaginar que eram eles que não o tinham. Seus pais tinham se separado e nada estava muito bom, mesmo que ele não tivesse muita certeza sobre o significado de toda aquela historia. 

Mas ele não era triste, não. Ocupava grande parte do seu tempo viajando, logo, não pensava muito nessas coisas. Já havia visitado a Inglaterra e era muito familiarizado com o som do BigBen, visitou o Egito e inúmeras vezes explorou as tumbas dos antigos faraós. Também conhecia uma ilha no mediterrâneo onde tudo era gigante e invadia casas abandonadas mundo afora para desvendar seus incríveis mistérios. Já havia ido aos Estados Unidos vezes o suficiente para ponderar sobre como deveria ser, falar e pensar em inglês, na verdade, ele já havia gasto muito tempo pensando sobre isso, até um dia ele se perguntar: “em que língua eu penso?” Sem nenhuma resposta concreta, decidiu que no pensamento não havia dialeto e imaginou que deveria ser por isso que aquela menina no X-man  conseguia ler a mente de quem quisesse. Em sua mala, uma lancheira do “ O máscara”, carregava adesivos de todos os lugares que já tinha ido. Uma coleção impressionante, aliás. Seu companheiro de viagem, o Max steel, um tipo forte , heroico e nem sempre bem humorado (de vez em quando, chateado com o comportamento dos pais do garoto, ele dava umas crises de raiva e se jogava contra a parede! Uma cena horrível de se ver, aliás) ostentava com muito orgulho a roupa da moda e transitava dos empregos de : agente secreto, modelo e super herói para poder bancar os luxos das viagens , já que o garoto não suportava viajar em classe econômica, de jeito nenhum!

E acabava que, no meio de todas essas aventuras , eles faziam muitas amizades! Conheceram um grupo de jovens detetives, com os quais correram meio mundo atrás de grandes mistérios; Uns coelhos e outros animais falantes, que sempre os tratavam muito bem e lhes ensinavam coisas maravilhosas (Menos as raposas,nunca confiaram nelas); Uma menina loira ,que tinha um péssimo hábito de comer coisas que encontrava no caminho, o que constantemente alterava o seu tamanho (será que ela nunca teve mãe?); Diversas madrastas, a grande maioria má, o que fazia o garoto se perguntar se a sua ,possível, futura madrasta seria boa? ou ele teria que abandonar o consumo de maçãs para sempre? Coisa que o agradava já que ele nunca vira nenhum atrativo naquela “fruta sem graça que rouba dentes”, dizia; Um menino com uma cicatriz na testa , que o Max Steel achou desnecessariamente exposta, e que lhes mostrou que fazer mágica com varinhas não era só coisa de fadas com brilho (apesar do garoto sempre ter achado esse brilho constante algo fascinante). E eles sempre se divertiam muito! 

Mas, como o garoto aprendeu desde cedo, tudo o que é bom tem fim. As aventuras acabavam, os vilões iam para a cadeia, seus amigos voltavam para suas casas e ele se deparava com a pior sentença já inventada na língua portuguesa : “FIM.” E ,de repente, tudo parecia menos legal, as cores eram mais cinza no quintal da sua casa, onde ele subitamente veio parar, o céu estava nublado e brilho era ''coisa de mulher''. O seu grande amigo não parecia mais tão interessante em seus 25 cm de comprimento e olhar apático de herói , a tão amada mágica se esvaíra por entre seus dedos e sua varinha de condão, era só um graveto meio reto, meio torto retirado da árvore de carambola que tinha no seu quintal. As coisas não eram legais depois do fim e isso foi uma coisa difícil de lidar. Ele ouvira ,certa vez, no rádio uma voz agradável que dizia “Nada do que foi será, de novo do jeito que já foi um dia.” A partir daí ele percebeu que não dava para voltar no tempo, ele não se permitiria estragar as boas lembranças que teve, as surpresas agradáveis e desafiadoras e cada obstáculo, que com seus amigos, ele superara. Não seria um tolo. 

E o céu já estava, em vez de cinza, uma cor escura ,que com certeza não era preto. Ele não sabia nem se aquilo era uma cor, mas na semana seguinte ele iria ao planetário num passeio da escola e  perguntaria para alguém de lá o que aquilo era , afinal.Sua mãe o chamava. Estava na hora de jantar. Ele sabia que estava com problemas porque não havia arrumado sua cama, coisa que ele nunca fazia. Mas ela não disse nada. Era um daqueles dias em que ela recebia seu salário mensal e todos comiam sobremesa em vez de janta. Seu pai já não estava mais lá, mas estava tudo tão calmo e bom que ele não sabia mais se ele já estava ausente fazia uma semana, um mês ou um ano. Depois de comer iogurte com sucrilhos e beber leite fermentado ele escovou seus dentes e seguiu para a cama. Enquanto sua mãe, no seu ritual diário, dava, constrangedores, porém amados, beijos de boa noite e ele fechava os olhos e se cobria, se lembrou de suas aventuras no dia e de repente todos os seus amigos estavam lá! Tinha brilho e varinhas de condão. As madrastas, na verdade, eram bem interessantes (porém muito feias), o garoto mágico tinha feito uma plástica e removido aquela cicatriz, para a alegria do Max, que aliás, estava presente também! Dessa vez eles iriam a uma aventura que o garoto escolheu! Tudo fazia sentido novamente e ele, finalmente, estava feliz.



Bem gente, eu escrevi esse texto baseado nas minhas aventuras literárias de quando criança, que são minhas melhores lembranças dessa época! Espero que tenham gostado. Beijos no ♥

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